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Não há lugar.




Nessa casa que você chama de sua
 e me convida pra entrar, já tem gente demais esparramada pelo sofá,
já tem gente demais sentada janelas,
saindo pela cozinha e entrando pela porta,
pra mim não há.
E nessa casa você diz, "Ainda tem espaço",
 mas eu não vejo mais nenhum lugar.
Olha só que ironia,
aquela casa não era minha,
era só um amontoado de gente para se achegar.

Você me convidara,
"se achegue, a casa é apertada, mas dá para apertar"
Olha só,
você me convidou, sem contar
quantas pessoas cabiam em um só lugar,
um só lugar.
Não cabe, não há como entrar.

Eu fechei as portas,
bloqueei com barricadas,
para me impedir de passar.
Eu me bloqueei, me impedi,
me despedacei porque não cabia ali.

Me despedacei!
Ora, eu me despedacei, porque quem sabe,
eu pedaço meu daria,
para caber e me montar numa sala tão pequenina,
me arranquei a pedaços,
me fiz de quebra cabeça,
mas sua cabeça não quis quebrar,
pra me remontar,
pra me desenhar,
para me encaixar no sofá.

Não havia espaço!
Nem para os meus pedaços,
nem para minhas partes inteiras,
não me cabia de qualquer maneira.
Maneira? Você não quis encontrar nenhuma,
não procurou, nem encontrou,
nem trocou a sua rua.

Mas não coube,
e nem há de couber,
sofás, sala, cozinha,
dois quartos e  banheiros,
uma casa inteira sem lugar,
sem caber.
Nem assento, nem mesinha,
nem espaço na escrivaninha.

Mas você tem, você tem espaço,
você tem espaço pra onde quiser ficar,
mudei meus móveis, troquei as portas de lugar,
te dei as chaves,
te mostrei o mapa,
te encontrei na escada
e te preparei um lugar,
um lugar inteiro, só seu.

E a minha chave sempre esteve,
em seu bolso esquerdo da frente da calça jeans desgastada,
tão desarrumada, tão desbotada,
mas a sua chave, nunca viu a minha bolsa,
nem esta no bolso da minha camisa amarrotada,
porque ela, sempre esteve num lugar comum,
embaixo do tapete, que pisa sua sola tratadora,
bem ali, na entrada!
Bem na entrada da sua casa abarrotada.
Bem ali!

Então eu acho que chegamos a um acordo,
você devolve a minha chave engraçada,
eu passo longe da sua rua,
eu queimo o seu mapa,
e finjo que nunca participei dessa etapa,
fecho a porta, que já estava fechada
e não procuro mais lugar,
na sua casa imensa que sempre tem alguém na porta,
pedindo pra entrar...
Mas você sabe, ah se sabe,
sabe muito bem que não há lugar...

Mas a chave sempre,
sempre
vai estar,
onde a sua bota tratorada pode pisar,
e você sabe,
e como sabe,
que a sua mesma bota,
não pisará somente em cima do seu tapete velho,
ela pisará em lugares muito mais amáveis,
muito mais vermelhos,
corações que só queriam um lugar,
dentro do seu,
dentro do seu coração,
que sempre ficou aberto pra quem quisesse passar e entrar.

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